quarta-feira, 23 de março de 2011

Viagem do corvo

Foto emprestada do site: http://www.frangoinsano.com.br

Era uma época difícil, praticamente estávamos vendendo o almoço para comer na janta. As crianças eram pequenas. Necessitavam de toda a atenção que a idade merecia.

As contas estavam batendo nas portas, não havia emprego no Brasil, e somente bicos não estavam mais sendo suficientes para manter minha família. Minha esposa estava grávida de mais um rebento.

Foi quando eu tive a excelente idéia de retornar ao Japão. Lugar que já tinha me abrigado outrora.

Com o intuito de economizar na viagem – na verdade não tinha dinheiro mesmo – comprei a passagem diretamente na companhia de aviação, dispensando-se assim as agências intermediárias.

Foi assim que comecei minha aventura. Na partida do Brasil, não tive muitas novidades. Foi tudo em ordem. O problema começou quando tive que fazer a troca de avião na Coréia. É que no desembarque de um avião e o embarque em outro, tinha que pagar a “taxa de embarque”, tão normal nas viagens para o exterior.

O problema é que eu não tinha o dinheiro para a taxa de embarque, que revestia a irrisória quantia de 5.000 Ienes. Posso garantir que este valor é bem pouco aqui no Brasil também.

Tentei argumentar com a mocinha da companhia de aviação, que pagaria a taxa de embarque assim que desembarcasse no Japão, já que minha irmã e meu cunhado (hoje falecido) me aguardavam no aeroporto. Mas não teve jeito, ou pagava ali mesmo, ou ficava.

Como eu não tinha onde me abrigar, a empresa de aviação me ofereceu o hotel da empresa. Lá eu poderia ficar até conseguir dinheiro para pagar a taxa de embarque. E ali, eu fiquei por longo três dias meus amigos.

Me recordo ainda que – como o café da manhã era cortesia da casa – comia bem durante a manhã, e o restante do dia ficava no aeroporto a procura de alguém caridoso para pagar minha “taxa de embarque”.

No terceiro dia conheci um “odisam” que gentilmente pagou minha taxa, permitindo assim que eu finalmente desembarcasse no Japão. Depois eu o reembolsei viu!!! Para quem pensa que eu dei o calote no “odisam”.

O que isto tem de relevante? Bem, para quem acha que a vida não tem saída, sempre haverá. Pois, por mais escuro que seja a noite, ou por mais ameaçadora que seja a tempestade, o próximo dia sempre será lindo, com pássaros cantando e o sol brilhando radiante.

4 comentários:

ashley disse...

kkkkkkkk pelo menos te deram um cantinho pra dormir e um café!!!
afff quer saber as vezes a gente passa por cada coisa mas no final Deus nos estende a mão e nos ampara.
bjs adoro vcs demais...

Morita disse...

Querida Ashley. Reflita sobre esta passagem na minha vida e perceba o que eu já fiz para poder criar vocês com dignidade. E, mesmo assim não reconhecem os meus sacrifícios. Que Deus nos proteja sempre. Mas, um dia eu sei que você reconhecerá tudo de bom que eu te fiz, dos meus sofrimentos e tudo mais, e este dia... vai ser o fim do mundo, rsrsrrsr. Abraços.

ashley disse...

querido Edson caso você não saiba eu reconheço tudo que você fez sim.
ninguem pode saber o que o outro traz no coração ,mas saiba que tenho muita admiração e carinho por ti.
agradeço por tudo que vocês fizeram e lamento pelas palavras de adolescente que nem sempre são as melhores nem demonstram gratidão ,amor e reconhecimento.
mas fica aqui registrado o quanto vocês são importantes pra mim.
BJs em seu coração se cuida

Morita disse...

Registrado então. Na verdade eu estava brincando, eis que sei que você gosta muito da gente. Mas, como carinho e canja de galinha nunca é demais. Valeu!!! Coração de adolescente, realmente, é terra que ninguém anda né??? Quando acreditamos que estão pensando em algo relevante, estão perdidos em paixões mal resolvidas, desilusões, frustrações, mas, como diz o poeta... tudo passa...o resto tudo vale. Beijos!!!